História gonçalense
A família Ferreira da
Silva
Texto de Jorge
Cesar Pereira Nunes
Uma das famílias naturais de São Gonçalo que se destacaram no cenário local e nacional nos séculos XIX e XX foi a Ferreira da Silva. Os chefes do clã eram José Ferreira da Silva (1805/1869) e dona Custódia da Cunha Ferreira da Silva (1811/13-11-1893), donos da fazenda Monte Formoso, em Cordeiros, e que ali fizeram vir ao mundo os filhos José Claro, Augusto Guanabara, Henrique Guatimozim, Belarmino, Brasília e América Brasília. José, pai, que chegou a tenente-coronel da Guarda Nacional e foi agraciado pelo imperador Pedro I com a medalha da Guerra da Independência (Bahia) e com o título de cavaleiro da Ordem de Cristo, por Pedro II, era conhecido como pândego por seus contemporâneos pelas grandes festas que realizava em sua propriedade, e era também grande orador, tendo sido um dos principais na homenagem póstuma à memória do coronel Antônio Vicente Gomes, em 5 de abril de 1864, ex-comandante do 2º batalhão da GN, de São Gonçalo. Em 24 de agosto de 1869, José faleceu e foi sepultado no Cemitério de Maruí, levando a viúva, cujos três filhos estavam na Guerra do Paraguai e ela só tinha a companhia de um filho e das duas filhas, a se mudar para o centro de Niterói. Dois anos depois, em 20 de dezembro de
Imagem: José Claro Ferreira da Silva, óleo
sobre tela, de Antônio Parreiras (1905), reprodução fotográfica de Helena
Telles Barbosa.
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Os rapazes, no entanto, preferiram
coisas mais movimentadas. Dos quatro, três alistaram-se como voluntários na
Guerra do Paraguai e para as plagas do sul viajaram a fim de combater os
vizinhos orientais que haviam invadido o território brasileiro. Apenas um,
Belarmino, ficou aqui, para cuidar dos pais e das duas irmãs. Os outros que foram combater os paraguaios
seguiram carreira no Exército.
Augusto Guanabara foi um deles. Nascido
em 1849, formou-se em engenharia, fixou-se em Porto Alegre , onde
trabalhou como engenheiro da Câmara Municipal, chegou a capitão de artilharia,
tornou-se lente (professor de matemática) da filial da escola militar que ali
existia, casou-se com Celina Nunes Pereira, filha do Barão de Santana do
Livramento (Vasco Alves Pereira, 1819/1883) e de dona Rosa Nunes de Lima
Miranda, e elegeu-se deputado provincial gaúcho. Porém, em fins de 1881,
adoeceu e retornou para Niterói, onde os irmãos mais velhos residiam, e faleceu
em 11 de janeiro de 1882, aos 31 anos de idade, sem deixar descendência, tendo
sido sepultado no dia seguinte no Cemitério de Maruí. Poeta bissexto, Augusto
teve um livro de poesias publicado “post mortem”.
O outro foi Henrique Guatimozim.
Nascido em 15 de outubro de 1851, comandou o batalhão “Boi de Botas”, em São Gabriel , RS, onde
conheceu Olímpia Sara Abbot (Guatimozim Ferreira da Silva), casou com ela e
gerou os filhos Gil, Diná, Maria Josefina e Henrique Carlos. Prosseguiu na carreira
militar e chegou a marechal do Exército, patente com a qual faleceu em 1º de
junho de 1931, na cidade do Rio de Janeiro.
Na vida civil, mas com um pé na caserna,
por meio da Guarda Nacional, em que chegou à patente de coronel, Belarmino
nasceu em 26 de abril de 1844 na Fazenda Monte Formoso, em cuja capela foi
batizado, tendo por padrinho o então futuro Barão de São Gonçalo. Casado com
Maria Isabel de Almeida (e Silva), com ela teve 12 filhos, dos quais a ele
sobreviveram Belarmino, Euclides, Rodolfo, Francisco e Antonieta (professora
estadual em Pachecos). Eleito deputado provincial em duas legislaturas, pelo
Partido Conservador, na década de 1870, recebeu elogio do governo imperial, em
março de 1886, pelo zelo como funcionário da secretaria provincial de Justiça;
nomeado em 27 de abril de 1889 comandante do 17º batalhão da reserva da Guarda
Nacional em Niterói, assumiu o comando em 9 de maio seguinte; foi agraciado com
a comenda de oficial da Ordem da Rosa pelo imperador Pedro II, no princípio de
novembro de 1889; durante a Revolta da Armada (1893/1894), integrou a comissão
de socorro às populações pobres de Niterói; ao comemorar bodas de prata, em 9
de fevereiro de 1898, o casal foi homenageado com o poema “Uma saudação”, de
Alfredo Azamor; e foi declarado secretário perpétuo do Asilo de Santa
Leopoldina, mantido pelos vicentinos niteroienses, por haver exercido aquele
cargo nos últimos 24 anos de sua vida. Belarmino participou intensamente da
campanha de arrecadação de recursos para a construção do mausoléu do cônego
João Ferreira Goulart e foi o orador oficial em sua inauguração, no Cemitério
de São Gonçalo, em 13 de novembro de 1904. Quase cinco anos depois, em 29 de
outubro de 1909, o coronel Belarmino Ferreira da Silva faleceu e foi sepultado
no cemitério de Maruí, em Niterói.
O mais velho dos irmãos, José Claro
Ferreira da Silva, nasceu em 12 de agosto de 1836 e, logo após completar 18
anos de idade, já era nomeado segundo tenente da 1ª companhia do Batalhão de
Artilharia da Guarda Nacional, em São Gonçalo , conforme patente expedida em 19 de
julho de 1855. Apresentando-se como voluntário para a Guerra do Paraguai,
seguiu para a frente de batalha em 27 de fevereiro de 1865 e, depois de
participar do cerco de Uruguaiana, RS, em 18 de setembro assistiu à rendição
dos paraguaios, sendo-lhe conferida, dois dias depois, a medalha de prata pelo
seu desempenho naquele episódio. Após fazer parte dos grupos de reconhecimento
dos portos de Itapura e Candelária, combateu na vanguarda para a tomada de São
Tomás, em 22 de fevereiro de 1866, o que lhe valeu elogios do tenente-general
Manoel Marques de Souza (Conde de Porto Alegre, 1804/1875). Havendo combatido
em Curuzu e Tapera, tais suas bravura e coragem ali demonstradas, José Claro
foi agraciado com o título de cavaleiro da Ordem de Cristo, em 14 de março de
1867. Já capitão, em 12 de outubro do mesmo ano passou a comandar uma companhia
de infantaria e nela integrou a primeira linha de atiradores, retirando-se
apenas após o fim dos combates. Foi para o Chaco e participou das rendições de
Humaitá e nas regiões alagadas de Surubibi, Piquiri, Porto Santa Teresa,
Vileta, Porto de Santo Antônio e Angustura, onde assistiu à rendição das forças
inimigas em 30 de dezembro de 1868. Seguiu para os combates de Piraju, Sapucaí,
Barreiro Grande, Caraguataí, Vila Rica, São Joaquim e Vila do Rosário, tendo
sido elogiado em ordens-do-dia do ministro da Guerra e em pronunciamentos na
Câmara Legislativa Geral (hoje, Câmara Federal), durante o ano de 1869, em que
se destacou no combate de 12 de agosto em Peribebui, onde, com o sargento
Juvêncio Luiz Pacheco e o soldado Francisco Cristóvão Rogarells, invadiu uma
trincheira inimiga, matou dois soldados paraguaios, tomou a bandeira e a
entregou ao general comandante da divisão (tal bandeira ficou no museu da
Polícia Militar do antigo Estado do Rio de Janeiro, até pelo menos 15 de março
de 1975, quando ocorreu a fusão com o ex-Estado da Guanabara). Em 30 de maio de
1870, o imperador Pedro II concedeu-lhe as honras do posto de major do exército
e o nomeou cavaleiro da Ordem Imperial do Cruzeiro. Em 1872, recebeu a Medalha
Geral da Campanha do Paraguai em Ouro e as Medalhas de Honra conferidas pelos
governos da Argentina e do Uruguai. Promovido a tenente-coronel e coronel,
retornou ao Brasil e foi nomeado adjunto dos ajudantes da diretoria geral do
Arsenal de Guerra, cargo que exerceu até fevereiro de 1873, quando passou à
Intendência de Guerra, onde em abril se tornaria ajudante e, logo depois, diretor,
posto exercido até janeiro de 1881.
Já estabilizado por aqui, José Claro casou
com Serafina Celeste Coelho Bastos da Silva (1857/31-01-1886), que lhe deu os
filhos Serafina Celeste (falecida com 15 anos de idade, em 1901), Mário, João Brasílio
e Ernesto. No mesmo ano de 1881, em janeiro, o imperador nomeou-o para a
serventia vitalícia dos ofícios de 1º Tabelião do Público Judicial e Notas de
Escrivão do Cível, Comércio, Crime, Execuções Cíveis e Comerciais e de oficial
do Registro Geral de Hipotecas de Niterói, que assumiu em 7 de fevereiro, passando
depois para igual cargo no 2º Ofício de Justiça, que exerceu até 1901, quando
se afastou (abalado pela morte da filha) por motivo de doença. Sua morte
ocorreu em 28 de agosto de 1908.
Jorge Cesar Pereira Nunes é Bacharel em Direito, Jornalista e Pesquisador da História de São Gonçalo.É, também, autor das seguintes obras:
A criação de municípios no Estado do Rio de Janeiro;
Chefes de Executivo e Vice-Prefeitos de São Gonçalo;
Dirigentes Gonçalenses - Perfis;
Crônicas Históricas Gonçalenses I e II.
A criação de municípios no Estado do Rio de Janeiro;
Chefes de Executivo e Vice-Prefeitos de São Gonçalo;
Dirigentes Gonçalenses - Perfis;
Crônicas Históricas Gonçalenses I e II.
Atestado de óbito de José Ferreira da Silva, de 25-08-1869, arquivo da
Câmara Municipal de Niterói.
Relatório do Presidente da
Província, Carlos Afonso de Assis Figueiredo, de 15-10-1889, p. 23.
Correio Mercantil, 25-12-1848, p.
2.
Echo da Nação, 12-04-1860, p. 2.
A Pátria, 22-10-1859, p. 4;
07-04-1864, p. 2; e 18-03-1872, p. 2.
Diário do Rio de Janeiro,
31-08-1869, p. 1.
O
Fluminense, 02-02, p. 2, e 06-02-1881, p. 2; 17-03-1886, p. 1; 02-01-1889, p.
2; 08-05-1889, p. 1; 06-11-1889, p. 1; 11-11-1894, p. 3; 08-02-1898, p. 2;
19-02-1898, p. 2; 14-11-1904, p. 1; 30-10-1909, p. 2; e 26-06-1944, p. 1 e 2.
A Capital, 20-08-1908, p. 1.
Jornal do Brasil, 13-12-1909, p.
4.
O Imparcial, 03-12-1914, p. 7.
Lúcia Regina Crisóstomo,
descendente de José Claro Ferreira da Silva.
Registro de óbito nº 267, de dona Custódia da
Cunha Ferreira da Silva, no livro nº 2 de registro de óbitos do cartório do
registro civil do segundo distrito de São Gonçalo, folhas 98 verso e 99.
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