quarta-feira, 9 de outubro de 2013

Mata a cobra e mete o pau




Algum tempo escrevi sobre as inofensivas medusas da Indonésia clique aqui . Falando sobre o processo de evolução que sofreram durante milhões de anos que as fizeram diferentes.

Um fenômeno natural bem parecido, mas com um resultado inverso aconteceu bem perto da gente, aqui mesmo no Brasil. Estou falando da Ilha da Queimada Grande, localizada a 35 km de Itanhaém, no litoral de São Paulo. Uma ilha que seria considerada o próprio Jardim do Éden, pela sua beleza paradisíaca se não fosse um detalhe. Adão e Eva não seriam tentados por uma só serpente, mas por centenas, estima-se que sejam 5 por metro quadrado. Jararaca- ilhoa, parentes das jararacas, mas com um veneno 12 a 20 vezes mais forte, uma picada mata um ser humano em 2 horas. 

Essa cobralhada toda reunida em um só lugar se deve ao isolamento geográfico durante a era glacial há 10 mil anos onde o degelo cobriu grande parte da extensão de terra formando várias ilhas como essa. Desde então essas pobres serpentes tiveram que se virar para sobreviver nesse pequeno espaço de terra. E entrou mais uma vez a tal evolução fazendo as transformações necessárias para perpetuar a espécie em um local que não existe nem água potável. Como são sortudas essas cobras, pois a água que empossa das chuvas são suficiente para hidrata-las por um longo período. Mas voltando a evolução, todos sabem que o principal alimento da cobra são os roedores, mas como viver em uma dieta de carne vermelha se não existe mamífero. Cobra vegetariana seria demais, mas como diz Jorge Ben Jor, canja de galinha não faz mal a ninguém, e assim as aves de passagem pela ilha em suas migrações passaram a ser o alimento. E com isso as cobras aprenderam a subir e prender-se nas árvores pela calda para caçar enrolando em forma de um laço em volta dos galhos e se sustentar pendurada. 

A peçonha também foi outro fator na evolução, se não tivessem ficado mais forte a ponto de matar a presa em segundos, correria o risco do jantar sair voando e parar no mar. Para ajudar na camuflagem a cor da pele tornou-se menos vistosa, um ocre variando até um marrom claro para chamar pouca atenção. A solução encontrada pela natureza para épocas de superpovoamento ou escassez foi torna-las hermafrodita. Quando em determinada época ocorre ali maior presença de machos, ou vice-versa, algumas desenvolvem o sexo oposto para perpetuar a espécie. O site Listverse, especializado em listas diversas de melhores e piores sobre todos os assuntos, em 2010, elegeu a ilha como o pior lugar do mundo para se visitar, à frente da zona contaminada de Chernobyl. 

Impressionante como um animal que carrega o pesado fardo da morte, pode trazer consigo a esperança da vida. Através do estudo do veneno da jararaca, em 1948, pesquisadores brasileiros descobriram o vasodilatador bradicinina, que tem ação anti-hipertensiva e deu origem ao importante medicamento Captopril. Mais tarde em 2011, graças também ao estudo do veneno da jararaca surgiu o Evasin. Estudiosos acreditam que pesquisas realizadas com o veneno da jararaca-ilhoa, que só existe na Ilha brasileira, podem resultar em remédios de grandes benefícios para humanidade. 

Para ambientalistas as propriedades ainda inexploradas do veneno tornam essas cobras um alvo cobiçado da biopirataria. Pessoas inescrupulosas de outros países se aproveitam da distância da ilha para costa e caçam as cobras ilegalmente para leva-la para o exterior. A coleta de espécies na ilha tem que ser autorizada pelo IBAMA e a retirada de exemplares sem o consentimento constitui um grave crime perante a lei de proteção à fauna e as forças armadas. Então nos levantemos contra todos os estrangeiros que invadirem e explorarem nosso território. Vamos dizer para eles que aqui nós matamos a cobra e mostramos o pau. Ou melhor, salvamos as cobras e metemos o pau. Por: Alex Wölbert

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