(Texto de Erick Bernardes)
Narrar histórias de fazendas de São Gonçalo transformadas em bairros é hoje chover no molhado, pois são muitas as que constituíram o nosso município. Contudo, o que destoa das variadas explicações é o modo como um desses logradouros fixou seu nome; em vez de cavalo ou boi o tal registro territorial se deve à ave que é tradicionalmente conhecida como rei do terreiro. Bem, falo aqui do Galo Branco e sua inusitada história de fundação.
Houve certa vez um dono de fazenda para as bandas de São Gonçalo. Dizem que possuía comércio chamado de Casa das Ferragens Galo Branco, lá para os lados de Niterói. Atravessar a sua propriedade tornara cada vez mais habitual aos transeuntes das terras gonçalenses, dado o fluxo de pedestres que precisava se locomover a pé ou a cavalo no intuito de chegar à atual Chumbada. Sabe-se que, naquele crescente ir e vir em sua fazenda, fizeram a tal passagem constituir ponto de referência importante. Daí apelidarem a porteira construída em madeira bruta de “Portão do Homem do Galo Branco”. Esse senhor não dormiu no ponto, ele mesmo tivera a ideia marota de pôr um galo de cerâmica na cor branca, junto à entrada da propriedade. Sim, fez por brincadeira mesmo, rendeu-se à invenção popular — e assumiu a alcunha com a cara mais lavada do mundo.
Incrível é saber como nascem as lendas, não é mesmo? Porém, sinto em lhe decepcionar, não se trata aqui de fantasia. História com letra maiúscula, isso sim. Bem, necessário reconhecer, em vez de Galinha Pintadinha ou Fábulas de Cocoricó, devemos ao Homem do Galo Branco o pioneirismo desse enredo narrativo.
Desfecho dessa história: sujeito sacana, figurão provocador e polêmico, jamais imaginou inventar registro do seu próprio território. E foi assim, de quando um certo comerciante cantou de galo para as bandas de São Gonçalo.
Erick Bernardes é escritor e professor mestre em Estudos Literários. (Assina uma coluna semanal no jornal Daki ) https://www.jornaldaki.com.br/ |
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