sexta-feira, 4 de novembro de 2016

Um Cônsul sueco aqui



Um cônsul sueco aqui
                                                                                  Jorge Cesar Pereira Nunes

            Personagem importante na História do Brasil foi o primeiro cônsul sueco no nosso país, Lourenço Westin, que durante longo tempo foi foreiro de terras na Fazenda Engenho Novo do Retiro, pertencente a Belarmino Ricardo de Siqueira (então futuro Barão de São Gonçalo) e de que hoje (2016) resta de pé apenas uma parede.
            Nascido em Västeras (ou Estocolmo, como gostava de afirmar), Suécia, em 22 de fevereiro de 1787, Lorentz (depois aportuguesado para Lourenço) Westin era filho de Johan Jansson Sênior Westin (1751/1828) e de Isabela Nordling (1753/1804). Aos 16 anos de idade (1803), Lourenço viajou por toda a Europa e foi à China, a serviço da firma inglesa Mayne& Brown. Ficou órfão de mãe no ano seguinte e, aos 20 anos (1807), ingressou na representação diplomática sueca, tendo sido designado para atuar em Lisboa, Portugal, onde conheceu os brasileiros Diogo Antônio Feijó, José Bonifácio de Andrada e Silva e Felipe Néri de Carvalho (que viriam a ser figuras de destaque na Independência do Brasil).
            Com a vinda da corte portuguesa para o Brasil (pressionada que estava pela iminente invasão de Portugal pelas tropas francesas de Napoleão, conforme veio a ocorrer), e dada a amizade que já estabelecera com vários brasileiros, Lourenço Westin conseguiu, graças à influência de seu pai, Johan Westin, então deputado sueco, ser transferido para o Rio de Janeiro, na condição de cônsul de seu país natal.
            Seu sonho era tornar-se fazendeiro, mas o máximo que conseguiu foi arrendar parte das terras da Fazenda Engenho Novo do Retiro, em Cordeiros, então distrito de Niterói (e hoje de São Gonçalo, sem o “s” final), onde não apenas plantou várias árvores frutíferas, como passou a produzir excelente vinho de caju, qualidade atestada pelo médico S. Álvaro de Castro, em 1863,ao abordar, em artigo jornalístico, as vantagens para a saúde humana de algumas bebidas “espirituosas”, como então eram chamadas as bebidas alcoólicas.
            Westin, havendo se tornado foreiro de Belarmino Ricardo de Siqueira (futuro Barão de São Gonçalo) e pelas ligações de amizade entre eles, veio a participar da criação da Loja Maçônica Distintiva, em 1812, em São Gonçalo, e atuou em favor da Independência do Brasil, em 1822, tendo prestigiado a instalação da primeira administração do Grande Oriente do Brasil, ocorrida no bairro de São Lourenço, em Niterói, em 24 de junho daquele ano. Embora não fizesse parte da diretoria, o ato serviu para Loureço conhecer pessoalmente o Grão Mestre Adjunto, Joaquim Gonçalves Ledo (1781/1847), nascido e falecido em sua Fazenda Macuco, em Cachoeiras de Macacu, que viria a ser deputado geral (federal) pelo Rio de Janeiro.
            Instalado o Império, um dos primeiros perseguidos pela nova ordem institucional foi exatamente Joaquim Gonçalves Ledo que, além de sua fazenda em Cachoeiras de Macacu, tinha uma chácara na cidade do Rio de Janeiro. Ambos os lugares, no entanto, não o livrariam de uma prisão, razão pela qual Gonçalves Ledo acoitou-se na fazenda Engenho Novo do Retiro, de Belarmino Siqueira, e este o aproximou ainda mais de Westin, que usou de suas influências diplomáticas para garantir a fuga, incólume, de Ledo para a Argentina, embarcando em um navio na Baia de Guanabara.
            Lourenço Westin só teve uma retaliação: cônsul perante a corte portuguesa, demorou mais de três anos para ter sua missão reconhecida no novo país, Brasil, por Pedro I, que apenas em 14 de abril de 1826 lhe concedeu audiência, para receber as suas credenciais de encarregado de negócios pela Suécia. Porém, Westin reconstruiu seu relacionamento com os novos governantes, a ponto de, em março de 1832, o próprio imperador o colocar na comissão que então criara para organizar o primeiro Código Mercantil do Brasil.
            Neste mesmo ano, aos 45 anos de idade, Westin fez-se retratar em quadro a óleo e, encerrados os trabalhos de organização do Código Comercial, pôde finalmente realizar seu sonho: encerrou seu contrato com Belarmino Siqueira, adquiriu a Fazenda Jardim, no atual município de Poço Fundo, em Minas Gerais, e para lá se transferiu. Ali faleceu em primeiro de julho de 1846, aos 59 anos de idade, sendo sepultado no alto de uma das colinas preferidas de suas terras, onde ainda hoje (2016) está lápide com a seguinte inscrição: “Aqui jaz Lourenço Westin. Nasceu em Stockolmo a 22 de fevereiro de 1787. Faleceu no dia 1º de julho de 1846. Foi o primeiro Cônsul da Suécia e Noruega no Brazil”.


Jorge Cesar Pereira Nunes é Bacharel em Direito, Jornalista e Pesquisador da História de São Gonçalo.
É, também, autor das seguintes obras:
A criação de municípios no Estado do Rio de Janeiro;
Chefes de Executivo e Vice-Prefeitos de São Gonçalo;
Dirigentes Gonçalenses - Perfis;
Crônicas Históricas Gonçalenses I e II.

Fontes: Olivar, Júlio, “O Mistério do Cônsul – A história de Lourenço Westin”, Gráfica e Editora Papiro, Vilhena (Rondônia), p. 81.
                 Soares, Emanuel de Macedo, “As Ruas Contam Seus Nomes”, p. 465 e 466.
                 Mensagem Maçônica, de 11-08-1919, Comemorativa ao Centenário da Instalação da Vila Real da Praia Grande.
                 O Spectador Brasileiro, 14-04-1826, p. 4.
                 Correio Mercantil, 26-03-1832, p. 1; e 15-11-1863, p. 2.
                 Correio da Manhã, 24-10-1920, p. 2.
                  A IllustraçãoBrazileira, 16-12-1920, p. 134.
                  A Noite, 18-08-1925, p. 1.

4 comentários:

  1. Tá largado o túmulo do consul... recentemente visitei Poço Fundo e fui visitar o túmulo de Lourenço Westin... É pela minha surpresa... Vi um local abandonado. Vergonhosa administração de Poço Fundo... Não reconhecer um cidadão tão ilustre.

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  2. Parabéns, Jorge! Um resumo perfeito da vida desse nosso antepassado, inclusive com informações novas para mim. Estive em Caldas MG mês passado, local de onde a família Westin praticamente teve início e também para conhecer o famoso quadro exposto na Igreja Matriz, que é um dos patrimônios tombados da cidade. Pintado pelo artista sueco Frederick Westin (Estocolmo 1782-1862), foi doado para a matriz por seus herdeiros. A obra representa o momento em que o Anjo Gabriel anuncia à Virgem Maria que ela seria mãe de Jesus Cristo. Um fragmento da história interessante e muito valorizado pelos abitantes locais. Com a sua licença, vou divulgar esse resumo tão bem feito aos meus parentes e conhecidos. Abraço, Alencar Alberto da Silva Westin. 06/08/2018

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  3. Infelismente só se conta o pouco que esse ''ilustre'' estrangeiro fez de bom aqui, mas os podres não tocam no assunto, tipo ele ter uma maquina de falsificar dinheiro, e ele ter dado golpes no governo brasileiro, outras historias contam que ele forjou a propria morte pra não ser preso, enfim, até dizem que ele não está enterrado la, mas são só aguas passadas né???

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  4. Infelismente só se conta o pouco que esse ''ilustre'' estrangeiro fez de bom aqui, mas os podres não tocam no assunto, tipo ele ter uma maquina de falsificar dinheiro, e ele ter dado golpes no governo brasileiro, outras historias contam que ele forjou a propria morte pra não ser preso, enfim, até dizem que ele não está enterrado la, mas são só aguas passadas né???

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