Colombiano,
libanês e brasileiro
Jorge
Cesar Pereira Nunes
Uma das pessoas de ligação com São Gonçalo e cujos fatos
locais foram esquecidos pela historiografia é o escritor, jornalista e
diplomata Mansour (Youssef)Challita, que nasceu em Bogotá, na Colômbia, em 24
de dezembro de 1919, e faleceu no Rio de Janeiro em 12 de julho de 2013. Embora
sua naturalidade fosse colombiana, a nacionalidade era libanesa porque seus
pais, Joseph (Youssef)Challita e AdèleSfeirChallita (falecida no Líbano em 10
de março de 1967), ali estavam em missão diplomática e registraram o filho na embaixada
libanesa, de acordo com o “jus sanguinis”, ou seja, o“direito de sangue”,
princípio jurídico que só reconhece como nacional a pessoa nascida de pais
nacionais.
Pouco depois, Joseph e Adèle retornaram ao Líbano, onde o
menino Mansour não apenas usufruiu a infância e a juventude, como estudou e se
formou, na Universidade Jesuíta São José,em Filosofia e Letras, dali viajando
para a França, em que obteve o diploma universitário em Direito, e em seguida
para os Estados Unidos, onde se formou em Jornalismo pela Universidade de
Boston. Espírito inquieto, veio ao Brasil em 1949, com visto temporário,
retornou ao Líbano e decidiu fixar-se em território brasileiro, o que fez com o
visto permanente obtido em 24 de setembro de 1952.
Estabeleceu-se na cidade do Rio de Janeiro, para editar
um jornal (que não se tornou realidade) destinado à colônia árabe, e fez longa
carreira de jornalista, poeta, tradutor e escritor, destacando-se com a
tradução do Alcorão e de toda a obra de Gibran Kalil Gibran. Além de escrever
57 livros em Português, quatro em Francês e um em Inglês, Mansourcolaborava com
artigos para os jornais O Globo, Jornal do Brasil, Jornal do Commercio, O
Fluminense, Correio da Manhã e as revistas O Cruzeiro e Manchete.De suas obras,
duas receberam participação especialíssima: “Do Oriente Médio – Mosaicos”,
lançada em 1974, teve prefácio do escritor brasileiro Jorge Amado, que também
prefaciou, no mesmo ano, “Mil e Uma Noites”. Alguns de seus escritos foram
transformados em peças teatrais, entre as quais a tradução de “Parábolas”, de
Gibran Kalil Gibran, foi adaptada como “Sete Parábolas”, e ficou em cartaz no
Teatro Pedro Jorge,em 1974, e “Um Encontro Esplendoroso com Gibran”, também
baseado em tradução de Mansour, foi encenado no Teatro Nelson Rodrigues
(ex-BNH), em 1988.
Criada em 1945, a Liga dos Estados Árabes designou-o, em
1957, como seu primeiro delegado no Brasil, cargo que ocupou até julho de 1975,
quando ela foi transferida para Brasília. Radicado no Rio de Janeiro, ele
recebera, em 1969, a Medalha Machado de Assis, da Academia Brasileira de
Letras, e a comenda de honra da Ordem Imperial Constantiana Militar de São
Jorge, conferida por seu dirigente, Igor CommenePaleologue, além da Ordem
Nacional do Cedro, no grau de comendador, que lhe foi conferida pelo presidente
libanês Elias Hrawy (1926/2006), em 1996, entregue pelo embaixador GaziChidiac
em ato realizado no Consulado Geral do Líbano no Rio de Janeiro; Mansour foi,
também, diretor-geral do Conselho Nacional do Turismo, do Líbano, de 1967 a
1970: implantou a União Libanesa Mundial no Brasil em 1969 (em breve retorno a
este País), criou a Associação Cultural Internacional Gibran (que presidiu até
sua morte) e a Associação dos Amigos do Líbano, em 1980, entregou a cada membro
da Academia Brasileira de Letras um exemplar sua tradução de “O Alcorão”, para
que eles entendessem as razões dos muçulmanos; havia se tornado, em 1972, sócio
do Clube Excursionista Brasileiro, vindo a ser, dez anos depois, da Associação
Brasileira de Imprensa, de que foi sócio por indicação do presidente Austregésilo
de Athayde (Belarmino Maria Austregésilo Augusto de Athayde, 1898/1993); em
1983, o presidente da República, João (Batista de Oliveira) Figueiredo
(1918/1999), ao receber grupo de estudantes, recomendou-lhes ler “A Arte da
Política”, de MansourChallita, para entenderem as dificuldades dela
resultantes; em 1985, Mansour liderou manifestação de cerca de 100 libaneses,
em frente ao hotel Copacabana Palace, onde estava hospedado o presidente
francês François Mitterrand (1916/1996), pedindo a apoio da França às
iniciativas de paz no Líbano; e ainda teve tempo de fazer conferências em
vários municípios fluminenses, como na Câmara Municipal de Vassouras, em 1980,
e na Casa de Cultura de Araruama, em 19 de junho de 1993.
Mansour Chalita viu ser realizada prova especial no
Jóquei Clube Brasileiro, em 19 de março de 1972, pelos 27 anos da Liga dos
Estados Árabes, promoveu o Primeiro Festival de Cultura Árabe no Brasil, em
agosto do mesmo ano, no Palácio Guanabara, mês em que também recebeu homenagem da
Assembleia Legislativa do extinto Estado da Guanabara; em 1971, editara o
jornal “Hifen”, de ligação entre árabes e brasileiros, e entregou vários
exemplares ao presidente do Líbano, Suleiman (Kabalan)Frangieh (1910/1992), no
momento em visita ao Brasil; coube-lhe, em 1973, realizar na cidade do Rio de
Janeiro Fórum Econômico de que resultou a criação da Câmara de Comércio
Árabe-Brasileira; foi agraciado, ainda, com os títulos de Cidadão Carioca e
Cidadão Fluminense, pelas Assembleias Legislativas dos antigos Estados da
Guanabara e do Rio de Janeiro; em 1994, recebeu do ministro da Marinha a
Medalha Mérito Tamandaré.
Toda esta biografia ignora, entretanto, que talvez o
primeiro artigo escrito por MansourChallita em território nacional haja sido em
São Gonçalo. Com vários familiares aqui residentes e comercialmente
estabelecidos (ainda hoje), ele estava há menos de quatro anos no Rio quando
veio a São Gonçalo, em 1955, cuidar de interesses particulares, alguns dos
quais dependiam da Prefeitura. Por isso, dirigiu-se à sede do Poder Executivo
e, surpreso, foi imediatamente atendido pelo prefeito Joaquim Lavoura
(1913/1975), que gostava de estar fisicamente à frente das obras executadas por
sua então primeira administração, mas nos momentos que passava em seu gabinete
atendia a todos que o procurassem. Mansour explicou-lhe seus problemas e
Lavoura solucionou imediatamente “todos os que estavam de acordo com a lei”,
conforme fez questão de frisar. O impacto foi tão grande que Mansour resolveu
escrever um artigo sobre o prefeito, e o publicou em partes no jornal O São
Gonçalo (nas edições de 02, 05, 09 e 12 de fevereiro de 1956), então dirigido
por seu fundador, jornalista Belarmino de Mattos.
Jorge Cesar Pereira Nunes é Bacharel em Direito, Jornalista e Pesquisador da História de São Gonçalo.
É, também, autor das seguintes obras:
A criação de municípios no Estado do Rio de Janeiro;
Chefes de Executivo e Vice-Prefeitos de São Gonçalo;
Dirigentes Gonçalenses - Perfis;
Crônicas Históricas Gonçalenses I e II.
É, também, autor das seguintes obras:
A criação de municípios no Estado do Rio de Janeiro;
Chefes de Executivo e Vice-Prefeitos de São Gonçalo;
Dirigentes Gonçalenses - Perfis;
Crônicas Históricas Gonçalenses I e II.
Fontes:
Dicionário de Orientalistas de Língua Portuguesa, verbete
“MansourYoussefChallita”, Lisboa, Portugal.
Associação Brasileira de Imprensa,
proposta de sócio nº 15.720, de 29-11-1982.
Arquivo Nacional, Fundo de Imigração,
Cartões de Imigração de 1949 e de 1952.
Liga dos Estados Árabes no
Brasil.
Consulado do Líbano no Rio de
Janeiro.
O São Gonçalo, 02, 05, 09 e
12-02-1956, todos p. 1.
OFluminense, 27-06-1981, p. 12; 13-01-1985,
caderno Encontro, p. 1; 23-11-1985, p. 11; e 08-09-1991, caderno Encontro, p.
3.
O Jardim Árabe, junho/julho de
1995, p. 8.
Diário de Notícias,
19-03-1972, p. 7; 18-06-1972, 3º caderno, p.24; 30-07-1972, p. 13; 28-02-1973,
p. 4; 19-02-1974, p. 5; 14-06-1974, p. 5; 06-09-1974, p. 21; 06-09-1974, p. 21;
22-07-1975, p. 3; 25-11-1975, p. 8; e 18-04-1976, p. 35.
Jornal do Brasil, 06-12-1970,
p. 50; 01-02-1971, p. 9; 27-02-1971, caderno Livro, p. 11; 18-03-1972, p. 10;
14-08-1972, p. 20; 17-11-1973, caderno Livro, p. 3; 19-02-1974, caderno Livro,
p. 2; 06-07-1974, caderno B, p. 2; 06-07-1974, caderno Livro, p. 1; 07-04-1976,
caderno B, p. 8; 29-10-1977, caderno Livro, p. 2; 03-11-1978, caderno B, p. 7;
12-08-1979, caderno Especial, p. 4; 19-01-1980, p. 11; 02-03-1980, p. 11;
02-04-1980, caderno B, p. 2; 08-05-1980, p. 10; 28-07-1980, p. 11; 08-08-1980,
p. 11; 01-10-1980, p. 11; 25-10-1980, caderno B, p. 11; 29-10-1980, caderno B,
p. 2; 27-11-1980, p. 9; 12-04-1981, p. 10; 20-06-1981, caderno B, p. 2;
27-11-1980, p. 9; 12-04-1981, p. 10; 20-06-1981, caderno B, p. 11; 23-11-1981,
p. 11; 04-12-1981, p. 10; 13-12-1981, p. 10; 25-03-1982, p. 11; 13-05-1982, p.
11; 13-05-1982, p. 10; 24-05-1982, p. 11; 05-06-1982, p. 10; 10-07-1982, p. 1 e
11; 11-07-1982, p. 28; 17-07-1982, p. 1 e 11; 30-09-1982, p. 1 e 11;
11-10-1982, p. 1 e 11; 25-01-1983, p. 4; 19-03-1983, p. 11; 21-05-1983, p. 11;
30-09-1983, p. 11; 02-11-1983, p. 11; 12-11-1983, p. 11; 27-11-1983, caderno do
Líbano, p. 8; 04-02-1984, caderno B, p. 2; 03-03-1984, p. 10; 31-03-1984, p.
10; 16-08-1984, p. 11; 27-02-1985, p. 11; 05-07-1985, p. 10; 17-10-1985, p. 4;
05-02-1986, p. 11; 30-04-1986, p. 11; 12-05-1986, p. 10; 31-07-1986, p. 11; 16-08-1986,
p. 10; 10-09-1986, p. 10; 22-11-1986, 10; 24-11-1986, p. 11; 22-12-1986, p. 11;
15-03-1987, p. 10; 21-05-1987, p. 10; 30-08-1987, p. 10; 10-11-1987, p. 11;
30-01-1988, p. 8; 21-05-1988, caderno Ideias, p. 11; 30-05-1988, p. 10;
08-08-1988, caderno B, p. 5; 08-09-1988, p. 8; 12-02-1990, p. 8; 12-05-1990, p.
10; 25-11-1990, p. 10; 25-02-1991, caderno B, p. 1; 09-12-1991, 9; 17-12-1991,
p. 13; 24-12-1991, p. 9; 15-02-1992, caderno Ideias, p. 10; 22-02-1992, p. 8;
30-05-1992, caderno Ideias, p. 1; 29-07-1992, p. 10; 18-06-1993, caderno
Programa, p. 40; 28-08-1993, p. 4; 31-03-1994, p. 10;21-11-1994, p. 11;
11-01-1995, p. 10; 22-04-1995, p. 8; 10-06-1995, caderno B, p. 3; 19-06-1995,
p. 10; 23-08-1995, p. 6; 22-11-1995, p. 9; 04-12-1995, p. 8; 18-09-1996, p. 11;
09-10-1996, p. 25; 03-05-1997, p. 22; 08-09-1997, p. 8; 30-10-2001, caderno B,
p. 1 e 2; e 13-04-2002, caderno Ideias, p. 7.
Correio da Manhã,
21-03-1972, p. 15; 16-08-1972, p. 20; 07-08-1973, p. 2; e06-10-1973, p. 3.
O Cruzeiro, 07-07-1971,
p. 84; 17-11-1971, p. 98; 23-08-1972, p. 42; 15-08-1973, p. 51; 12-09-1973, 50;
10-10-1973, p. 50; 31-10-1973, p. 50; 12-12-1973, p. 50; 13-03-1974, p. 42;
05-06-1974, p. 28; 28-08-1974, p. 26; e 30-08-1982, p. 7, 8 e 9.
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