É muito triste ver o meu país de escolas com
instalações precárias. Crianças são sujeitadas a conviverem entre goteiras que
formam poças enormes nas salas de aulas. Carteiras quebradas onde o aluno se
preocupa mais em pensar como vai fazer para escrever do que na própria matéria
passada pelo professor. Banheiros com tubulações quebradas onde falta água para
o mínimo de higiene dos alunos e professores. A qualidade da merenda que chega às
crianças muitas vezes não supre o mínimo para a sua nutrição e interfere de
forma direta no crescimento e desenvolvimento intelectual. - É o famoso macarrão com salsicha, que muitas vezes é a única refeição para algumas
crianças que não tem o que comer em casa.
Podemos colocar nesse imenso circo de horrores chamado educação no Brasil os injustos salários
dos professores. Esses sim são guerreiros que fazem milagres para sobreviver e
graças a eles e o amor por desenvolver essa profissão nobre a educação ainda
caminha e vemos luzes no fim desse comprido túnel.
Todos
os que educam com amor são exemplos para todos nós, mas gostaria de falar de um
em especial. Um professor que como referida na musica dos “Paralamas” tinha a cor do Brasil. Não só a cor, mas o
Professor João Pereira da Silva tinha tanto haver com o seu país que fez dele
parte do seu nome.
João Pereira da Sila - João Brazil |
Em
12 de fevereiro de 1874 nascia na cidade de Nova Friburgo João Pereira da Silva,
filho do casal Clara Maria da Conceição do Nascimento e Desidério de Oliveira. Sempre
com muita dificuldade João ajudava no orçamento familiar trabalhando como
caixeiro ao mesmo tempo em que fazia seu primário na cidade de Macuco.
Foi
aos 15 anos que o lado educador de João aflorou e mesmo tendo apenas o curso
primário começou a lecionar para quatro alunos nos fundos da oficina do irmão
mais velho que trabalhava como ferreiro. E não demorou muito para João erguer o
Colégio Nossa Senhora da Conceição, sua primeira escola dentro de uma Fazenda chamada Maravilha onde
lecionava para os funcionários.
A
popularidade do professor João fez com que o coronel Alfredo de Morais dono da
Fazenda Providência contratasse-o para lecionar, e em 1893 se transferiu para
São Francisco de Paula. Um ano depois foi nomeado professor público em Lumiar
onde exerceu essa atividade por 4 anos. Foi nessa época que conheceu Magnólia,
sua companheira para toda vida. Casaram-se em 1900 e seguindo a máxima de que
atrás de um grande homem existe uma grande mulher, com ajuda de Magnólia no dia
12 de outubro de 1902 fundava em Estrada Nova, município de Itaocara, o Colégio
Brasil. Batalhador como sempre foi, fez ele mesmo as primeira mesas e cadeiras
de caixotes de madeira para seus 6
únicos alunos.
Em
1909 mudou o colégio de Itaocara para Cordeiro onde também fundaria um banco e
um jornal. Foi neste mesmo ano que adotou sua pátria ao nome passando a se
chamar João Brazil. O motivo dessa mudança foi a má fama de um homônimo na
cidade de Nova Friburgo.
Pavilhão principal do Colégio Brasil (1902-1985) |
Foi
em 1914 que João Brazil adotou de vez a cidade de Niterói alugando a chácara de
seu xará João Rodrigues Serrão, onde hoje é a Noronha Torrezão. Não demorou e
João Brazil, prestes a completar 10 anos residentes na cidade sorriso, ganhou o
maior de seus presentes do então prefeito Cantidiano Rosa, o contrato de cessão da utilização do patrimônio
que pertenceu à Constantino Pereira de Barros, o famoso barão de São João de
Icaraí. O belíssimo palacete que então estava funcionando como o asilo da
Velhice Desamparada. Neste lugar João Brazil pode dar continuidade ao que
sempre quis fazer em toda sua vida, educar. E assim o Colégio Brasil se tornou
referencia na educação Niteroiense e no Brasil. No começo o colégio funcionava
como internato e externato para rapazes e somente na década de 30 o colégio
abriu as portas para meninas.
Muitas
personalidades importantes no cenário nacional
passaram pelo Colégio Brasil como músicos, cineastas, educadores, políticos, militares e até um
rei. - “Falando sério, bicho!” - É, foi
no Colégio Brasil que rei Roberto Carlos aprendeu a ser “o cara”.
acima paio interno e abaixo entrada do Colégio Brasil década de 40 Crédito: Araken França |
Dez anos antes de falecer em 6 de maio de
1940, João Brazil ainda fundou o Colégio Guanabara em 1931 e fundou em 1932 o
jornal “O Estudante” um órgão de alunos do Colégio Brasil.
O
Colégio Brasil ainda funcionou quase meio século após a morte de seu criador.
Fechou as portas em 1985 e infelizmente nos dias de hoje o histórico palacete
localizado na Alameda São Boaventura corre o risco de não mais existir, podendo
vir a desabar ou mesmo virar estacionamento do condomínio que faz parte do
terreno. Mas para que isso não aconteça a família Brazil, moradores do Fonseca
e ex-alunos e professores do colégio brigam pelo seu tombamento e a criação de
um espaço cultural no lugar e assim mantendo a história e a memória desse bem
importantíssimo para cidade de Niterói.
Imagem (externa) do antigo Colégio Brasil |
Merecidamente este educador tão importante foi homenageado de diversas formas pelo Brasil
a fora após sua morte, mas dentre as mais importantes na cidade de Niterói está
Escola Municipal João Brazil no morro do Castro e a Avenida Professor João Brasil
tão importante para o gonçalense de Alcântara que trabalha no Rio, corta por Tenente Jardim para fugir do
engarrafamento da Alameda.
A Escola
Municipal foi criada por decreto número 2788/77 no ano de 1977, apesar do
primeiro tijolo ser colocado em 1976 na prefeitura de Ronaldo Fabrício tendo
como secretário de educação e cultura o Professor Helter Barcellos. Em 1977 o
então prefeito Moreira Franco continuou a obra da escola que foi construída no
terreno do famoso Dr. Raul de Castro Alves, que deu o nome ao morro do Castro.
Quanto
a Avenida Professor João Brasil essa tem mais idade, foi pelo decreto de 2 de
maio de 1950 do prefeito Rocha Werneck. Só em setembro de 1952 seu traçado foi
aprovado pelo prefeito Daniel Paz de Almeida e outubro do mesmo ano as obras
começaram. E assim Inaugurada em 1954 na
gestão do prefeito Lealdino Alcântara que por uma coincidência do destino um de
seus genros.
Infelizmente um erro de interpretação no
acordo de utilização da nova ortografia de 15 de junho de 1931, aprovada pela
Academia Brasileira de Letras e a Academia de Ciências de Lisboa em decreto
número 20.108 pelo presidente Getúlio Vargas fez erroneamente com que o nome do
homenageado fosse escrito com “S” e não com “Z”. O acordo Ortográfico Luso-Brasileiro resolveu
fixar a grafia de Brasil e não mais Brazil. Mas quanto ao nosso professor não
poderíamos levar em consideração essa mudança, pois se trata de um nome
próprio.
Podemos dizer que nossas vidas são
comparadas a um filme onde somos roteiristas, diretores e protagonistas. Que
por vezes fazemos dela, a vida, um romance,
drama, terror e até comédia. Alguns fazem verdadeiras obras dignas de Oscar. E
quem você gostaria de interpretar neste filme chamado de vida? Um “João-Bobo”
insistindo em votar em políticos que não dão a mínima para o seu país,
preferindo gastar milhões em estádios de futebol deixando de investir na saúde
e educação. Ou você prefere interpretar personagens como nosso professor João
Brazil, que mesmo nascendo pobre e mulato em um país cheio de preconceitos
conseguiu dar a volta por cima trabalhando muito pela educação e acreditando
tanto no seu país que fez dele extensão de seu próprio nome.
Queremos nosso Brasil desses João.
Texto: Alex Wölbert
Texto: Alex Wölbert
Fontes:
Família Brazil
CDP – Centro de
Documentação e Pesquisa de Niterói.
CURIOSIDADE:
·
Em 1936 candidatou-se a vereador, mas não foi eleito.
·
Casado com a professora Magnólia Brasil, tiveram 7 filhos.
Zoraida, Rubens, Ilka, Ruth, Zélia, Zuleika e João Brazil Júnior.
·
É patrono da cadeira
21 da Academia Itaocarense de Letras.
·
Fez parte da sociedade que reorganizou o Conservatório de
Música de Niterói e da comissão que no ano seguinte reformou a matriz de São
Lourenço.
·
Alunos famosos do Colégio João Brasil são o músico Sérgio
Mendes, as cantoras Marília Medalha e
Teresa Tinoco, o maestro Eduardo Lajes, o diretor de televisão Moacyr Deriquém
e o cineasta Walter Lima Junior além é claro de Roberto Carlos.
·
O prédio onde foi sede do Colégio Brasil em Niterói foi do
Barão de São João de Icará que foi
descendente do médico Francisco da Fonseca Diniz, proprietário das terras de
onde é o bairro Fonseca, daí o nome do bairro.
·
Letra do Hino
Hino do Colégio Brasil
Música de Maestro Felício Toledo e letra de Dr. A. Gonçalves
Pela Pátria sejamos, um dia,
Povo heróico da Patria feliz,
Exaltemos o ardor que irradia
Toda a glória do nosso País!
coro:
O Colégio Brasil, sempre à frente,
Sempre grande, a lutar, e a vencer,
Seja o templo da luz eloquente
Aclarando o infinito; O SABER!
Que os luzeiros da Pátria fremente
Do futuro os heróis devem ser...
Pelo livro, na ciência que vence,
Seja a nossa divisa: ESTUDAR,
Que o futuro somente pertence
Quem deseja crescer... e marchar...
Coro..
Passo altivo o Brasil, nossa terra
Inspirado no Céu sempre azul,
Elevar a grandeza que encerra,
Desde o Norte às coxilhas do Sul!
Coro..
Seja a Escola a esperança suprema
Toda envolta na Fé, no Labor...
Que se parta, nos pulsos, a algema
Onde possa vibrar nosso AMOR
Coro...
Hino do Colégio Brasil
Música de Maestro Felício Toledo e letra de Dr. A. Gonçalves
Pela Pátria sejamos, um dia,
Povo heróico da Patria feliz,
Exaltemos o ardor que irradia
Toda a glória do nosso País!
coro:
O Colégio Brasil, sempre à frente,
Sempre grande, a lutar, e a vencer,
Seja o templo da luz eloquente
Aclarando o infinito; O SABER!
Que os luzeiros da Pátria fremente
Do futuro os heróis devem ser...
Pelo livro, na ciência que vence,
Seja a nossa divisa: ESTUDAR,
Que o futuro somente pertence
Quem deseja crescer... e marchar...
Coro..
Passo altivo o Brasil, nossa terra
Inspirado no Céu sempre azul,
Elevar a grandeza que encerra,
Desde o Norte às coxilhas do Sul!
Coro..
Seja a Escola a esperança suprema
Toda envolta na Fé, no Labor...
Que se parta, nos pulsos, a algema
Onde possa vibrar nosso AMOR
Coro...
Sobre o autor:
Alex Wölbert é colaborador do Blog do Vovozinho, também do Blog do Tafulhar Considerado um dos maiores cronistas do Leste Fluminense, sobretudo, acerca da cidade de São Gonçalo-RJ. Faz parte do Projeto Recicla Leitores. Facebook: Alex Wölbert |
Grande Alex sempre com uma grande e linda história pra contar, mesmo eu gostando apenas de história acontecidas ou vivenciadas em minha cidade, visando resgatar nossa história, tenho que tirar o chapéu.... Parabéns meu querido amigo!
ResponderExcluirbem então nobre amigo, favor trocar "resgatar nosso passado! (ao invés de nossa história, valeu) exclui esta.. abraços
ResponderExcluir