quinta-feira, 31 de março de 2016

Luiz Caçador e pescador


História gonçalense

 

Luiz Caçador e pescador

                                                                                  Jorge Cesar Pereira Nunes

 

Filho de Manoel Bento da Paixão e Emiliana Rosa do Amor Divino, Luiz Pereira da Silva nasceu em Maricá, em 13 de fevereiro de 1880, mas se mudou para São Gonçalo ainda na infância, acompanhando a família. Todos foram para o bairro de Itaúna e ocuparam uma parte da fazenda ali existente, às margens do pântano que hoje integra a Área de Proteção Ambiental de Gapimirim, criada em 1984 pelo governo federal para proteger o alagado de cerca de 14 mil hectares, que abrange os municípios de Guapimirim, Magé, Itaboraí e São Gonçalo.
 
Luiz Pereira da Silva, o Luiz Caçador; carteira de identidade expedida pelo Instituto Pereira Faustino, do antigo Estado do Rio, em 11/12/1947; acervo de Maria José de Souza; reprodução de Jorge Cesar Pereira Nunes.

 
     Para ganhar a vida, o jovem Luiz começou a fazer o que todos faziam na região: pescava. De tanto percorrer o canal que forma a Ilha de Itaoca e o mangue, neste buscando, sobretudo, caranguejo, acabou por tornar-se conhecedor exímio dos "furos" (microcanais que interligam as áreas alagadas) e viu que a região tinha um outro tesouro natural: jacaré. Começou a caçá-los para se alimentar e vender o couro para os dois curtumes que existiam no Gradim e em Neves. Daí passou a organizar caçadas, para as quais recebia pessoas vindas de várias partes do território fluminense e também do então distrito federal, a cidade do Rio de Janeiro.

Era já a década de 1950 quando Luiz teve uma experiência religiosa: estava em meio a uma caçada de pássaros durante a qual vislumbrou um grupo de crianças, as quais não apenas protegiam os animais silvestres como promoviam a soltura dos cativos, e que lhe sugeriram criar um centro espírita. Foi o que fez, em 1953, dando-lhe o nome de Cosme e Damião – que depois foi chamado de Centro Espírita Nossa Senhora da Conceição –, de Umbanda, e passou também a dedicar-se a uma prática popular na época: a benzedura. Casado com Eliete Ferreira da Silva, com quem não gerou filhos, adotou duas crianças, José e Maria, aos quais ele e a mulher se dedicaram amorosamente. Seu centro espírita alcançou notoriedade e continua a existir, na Rua 31 de Março, lote 230, quadra 8, onde moram sua nora, os filhos dela e netos dele.

Embora seu templo religioso crescesse, ali ele só “rezava” as pessoas e dirigia as sessões, nos fins-de-semana, mas como não cobrava nada, precisava continuar cuidando da sobrevivência. Por isso, voltou à pescaria e à busca de caranguejos, abandonando de vez as caçadas, embora seu apelido continuasse a ser utilizado. No princípio da década de 1970, os proprietários originais da área a haviam reconquistado judicialmente, mas respeitaram o direito de posse de Luiz e fizeram um loteamento, dando-lhe o nome de Jardim Progresso, o que de pouco adiantou, porque a denominação do bairro de Luiz Caçador já estava fixada na opinião pública e permanece até hoje.

Luiz faleceu em 25 de maio de 1975, levando centenas de pessoas a seu sepultamento, no dia imediato, no Cemitério de São Gonçalo. A viúva, dona Eliete, mudou para o bairro de Marambaia e ali criou seu próprio “terreiro”, enquanto os descendentes de Caçador continuaram a dirigir o Centro Espírita Nossa Senhora da Conceição, já agora não apenas de Umbanda, mas também de Candomblé.


A história é contada por sua nora e recebe alguns reparos da neta Angélica Ferreira Bastos, para quem Luiz Caçador e sua família vieram de Maricá para Neves, em São Gonçalo, onde ele foi mestre de obras e casou, separando-se em seguida da primeira esposa. Só então mudou residência para Itaúna, onde contraiu novas núpcias, com dona Aliete Ferreira da Silva, que lhe deu uma filha, Maria do Carmo, casada com Altair dos Santos Bastos, pais de Angélica, que não chegou a conhecer o avô, pois a avó e a mãe já estavam residindo na localidade de Sacramento desde o falecimento dele. Dona Aliete ali criou o Centro de Caridade Vovó Maria do Rosário, que funcionou até 2014, quando, pela idade avançada, ela suspendeu os trabalhos, embora continue a residir no mesmo local, com plena saúde, neste ano de 2016.






Jorge Cesar Pereira Nunes é Bacharel em Direito, Jornalista e Pesquisador da História de São Gonçalo.
É, também, autor das seguintes obras:
A criação de municípios no Estado do Rio de Janeiro;
Chefes de Executivo e Vice-Prefeitos de São Gonçalo;
Dirigentes Gonçalenses - Perfis;
Crônicas Históricas Gonçalenses I e II.


 

Fontes: Dona Maria José de Souza, a “Maria Caçador”, nora do biografado, em 20-05-2014.

              Dona Angélica Ferreira Bastos, neta do biografado, em 06-04-2016.

              Carteira de Identidade RG nº 240.623, de 11-12-1947, do Instituto Pereira Faustino.

             Registro de óbito nº 9834, livro nº 24, folha nº 280, do Cartório do Registro Civil do 2º Distrito de São Gonçalo.

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