Muito depois do futebol se tornar o esporte mais popular do mundo e a língua inglesa, uma das mais faladas no planeta, bem depois das teorias de Newton e Charles Darwin e pouco depois da televisão, do telefone, da penicilina, do motor elétrico, da locomotiva a vapor e do trem invadirem nosso dia a dia, mudando radicalmente nossos hábitos e costumes.
Tornou-se comum a invasão de escolas de origem estrangeiras no final do século XIX e inicio do século XX em todo o território brasileiro Certamente devido à enxurrada de imigrantes de diversas nacionalidades em nosso país, São Gonçalo não podia ficar imune a esta presença, a primeira invasão no bom sentido é claro foi em 1908, na Chácara Paraiso numa área de 150.000 (cento e cinquenta mil metros quadrados) localizado na Venda da Cruz, onde há pouco tempo funcionou o 3º BI, foi instalado uma sucursal do Gymnasio Anglo-Brazileiro ou The Anglo-Brazilian School uma vez que a matriz havia sido criada em 1899 em São Paulo em plena Avenida Paulista.
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(D.O.U.com as diretrizes da nova escola) |
Seu fundador Charles W. Armstrong oriundo de Nottingham - Inglaterra era adepto da celebre citação em Latim do poeta grego Juvenal: Men Sana, incorpore Sano (somente um corpo são pode produzir ou sustentar uma mente sã. Seu uso mais generalizado expressa o conceito de um equilíbrio saudável no modo de vida de uma pessoa). Gostava de trabalhar tanto o lado intelectual do aluno, como também o corpo através de exercícios, as belas instalações da Chácara Paraiso proporcionava as condições ideais para tal, amplas acomodações, salas de aula, dormitórios, local para recreação e principalmente muito verde, jardins arborizados, diversos tipos de árvores inclusive frutíferas e espaço para os exercícios da petizada, caminhadas, corridas e recreações diversas.
A foto lateral do prédio dava para ver o conforto e toda a arborização do local.
Convidou para Vice-Diretor e seu braço direito o Mr. Alfred Robinson Aldridge devido a
sua larga experiência na direção de grandes colégios estrangeiros desde 1898 aqui no Brasil,
em São Paulo.
O colégio funcionava como internato e semi-internato, sua grade curricular era bem rica
e diversificada, havia prova classificatória para entrar para o ginásio, como também cursos
preparatório para crianças de 2 a 4 anos, funcionava com regime de internato para crianças a
partir tenra idade, a escola era essencialmente masculina, tipo clube do bolinha, menina não
entrava. A intenção que os estudantes saíssem dali direto para uma faculdade, mais também
tivessem uma educação com moral e civismo.
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(GRADE CURRICULA) |
Professor fazendo explicação in loco, na sala de aula.
O colégio funcionou na Chácara Paraiso até 1911 sendo transferido para Chácara Vidigal no caminho Niemeyer - Rio de Janeiro – numa área deslumbrante, veja a descrição no livro Impressões do Brazil no Século Vinte, editado na Inglaterra em 1913, assim descreve o local: “Magnificamente situado, 300 pés acima do nível do mar, o edifício tem uma soberba vista sobre o oceano. O cenário é grandioso, havendo aos lados a floresta virgem e atrás a majestosa montanha dos Dois Irmãos”. Onde permaneceu ate 1937.
A segunda invasão foi de forma mais tranquila, pois o Vice-Diretor Mr. Alfred Robinson Aldridge, usando toda sua experiência adquirida na direção do Mackenzie College e Hydecroft College, ambos em São Paulo, como também Anglo-Brazileiro aqui em nossa cidade, resolve fundar o seu próprio colégio em 1912, intitulando-o de Aldridge College, aproveitando o nome de família, utilizando seu filho Walter Leonard Aldridge como parceiro de direção e revezando nas salas de aulas com a outra filha Mrs. Doris e a esposa de Walter Leonard e mais alguns professores. Os preceitos continuavam os mesmos, sendo o nível de educação de excelência, muito mais que preparar os alunos apenas para uma vida acadêmica em alguma faculdade qualquer, preparava-os para a vida, ensinando-os preceitos de moralidade, responsabilidade, disciplina, e trabalho, eu lema era: "Labore Et Honore" - Com trabalho e dignidade - A educação no Aldridge era comparada com os melhores colégios do Brasil.
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(Vista do prédio principal, alunos cumprimentam o corpo docente e Mr. A. R. Aldridge na sacada do segundo andar) |
Mr. Alfred Robinson não precisou fazer grandes investimento uma vez que aproveitou toda a estrutura deixada pelo Anglo, como também alguns alunos do semi-internato que ficaram no meio do curso e não foram transferidos para o Rio.
No seu livro Luiz Simões Lopes que estudou no Aldridge College, na pagina 46 - Primeiros Estudos destaca:
“... Em 1913, portanto aos 9 para 10 anos, fui matriculado no Aldridge College, com meu irmão Fonsequinha. Era um excelente entro educacional e lá aprendi enormemente, sob todos os pontos de vista, Seu Fundador Alfred Aldridge, trazia grande experiência da Inglaterra. Era homem de boa cultura de elevada moral e espirito de justiça. Enérgico, a ponto de dar vara nos meninos, a moda inglesa, era boníssima e gozava de raro prestigio entre seus alunos.
O Aldridge College - cuja divisa era Labore et Honore - era situado numa bela chácara - a Chácara do Paraiso - Em São Gonçalo, Niteroi¹, com árvores frondosas, algumas frutas tropicais, como mangas, jacas e muitas outras. La vivia nosso diretor Alfred Aldridge com sua bonita filha, Miss Doris - minha primeira professora de primeiras letras em inglês -, e seu filho Leonard, vice-diretor, com sua simpática e excelente senhora para nos Mme Aldridge (Elvira Bertha Duchen)".
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( Mr. Alfred Robinson Aldridge, (2) Walter Leonard Aldridge e sua esposa (3) Elvira Bertha Duchen) |
Naquela altura o colégio ia de vento em polpa os anúncios nas revistas de circulação nacional surtiam efeito e a escola seguia com sua capacidade máxima de matriculas, ajudado por um sistema de transporte eficiente os alunos e familiares não encontravam dificuldade em chegar a seu destino dispondo de transporte de barcas do Rio a Niterói e de bondes do centro ate a Chácara Paraiso.
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(O sistema de bondes foi implantado na Via Dr. March em 1910, passando em frente ao colégio) |
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(Anúncios na Revista Fon Fon - em todo Brasil- atraindo diversas matriculas) |
Um acidente fatal com as barcas na travessia da Baia de Guanabara muda radicalmente os planos e metas do Mr. Alfred Aldridge, que sofreu um grande impacto com o acontecido, levando-o a transferir o Aldridge College de São Gonçalo para Botafogo no Rio de Janeiro em 1917, já naquela época o bairro de Botafogo era promissor concentrando a maioria da elite educacional carioca, ostentava uma beleza natural e recebia bons investimentos em infra-estrutura da prefeitura, tendo como consequência moradores de ótimo nível cultural e financeiro. A nova edificação pertencera ao barão de Alegre Praia de Botafogo, 374. Era um prédio imponente e muito belo de arquitetura sem igual. A mudança para o Rio trouxe novos ares e a direção resolveu aceitar também meninas em suas acomodações, passando então as turmas a serem mistas.
A Revista Ilustração Brasileira, de 1925, dizia: "muito há do que se ufanar, tais os louros colhidos por seus alunos, (...) se impôs a todos pela retidão, pela disciplina e pela moralidade observada nesta casa de educação, sob a direção dos professores ingleses Alfred R. Aldridge e Walter Leonard Aldridge".
O Aldridge funciona neste endereço ate 1927, porem uma tristeza abate os mestres e alunos, seu fundador Mr. Alfred Aldridge falece em 1925, aos 71 anos de idade, tendo nascido na Inglaterra em 1854 por mais de meio século dedicou-se ao sacerdócio de educador com rara competência, merecia um mínimo de homenagem das autoridades gonçalenses, como uma placa singela em uma escola pela sua brilhante trajetória usando seus princípios éticos e morais na educação da juventude brasileira.
O Aldridge College continua sob a direção do filho mais velho Walter Leonard Aldridge, mudando novamente de endereço, mais desta vez para uma sede própria na Praia de Botafogo, 184. Ampliando posteriormente suas instalações com a compra dos terrenos e prédios de nº 186, 188, 190 e 192 - esta área é hoje da Fundação Getúlio Vargas, vendida em 1945, quando o Aldridge College deixou de existir devido a Nacionalização do ensino promovido por Getúlio Vargas.
Vejamos o que diz a ex-aluna do Aldridge com 84 anos hoje, sobre sua experiência nesta nova instalação:
"- Eu entrei para o Aldridge em 1940, no antigo admissão, que era o preparatório para o ginásio. Fui recebida pelo Sr. Felix, um idoso bedel (era assim que se chamavam os inspetores de disciplina) Meu irmão Luiz Osório de Brito Aghina (que se tornou um importante engenheiro nuclear conhecido mais fora do Brasil do que na sua terra) era 2 anos mais moço que eu, fomos, os dois apavorados, saindo de um coleginho pequeno na Urca para aquele eeennnooorrnnmmee prédio na Praia de Botafogo, onde hoje é a Fundação Getúlio Vargas. Eram 2 prédios, um bem antigo, com escadarias de Ferro, um pátio muito grande onde ficávamos em forma, esperando a subida para as salas de aula. No outro prédio, mais moderno,
subíamos em escadas de mármore. O chão era de cerâmica vermelha São Caetano e no último andar um grande salão para o recreio. das meninas. O dos meninos era no térreo. Nós almoçávamos lá e como bom diretor inglês, Mr. Leonard Aldridge, cuja esposa era , Mme. Bertha Duchen, o almoço era todo falado em inglês e francês., Até as orações antes das refeições eram, uma semana em inglês e outra em francês. Eu me lembro que uma das filhas do Mr. Aldridge se chamava Violeta e dava aulas de taquigrafia. Era um dos poucos colégios mistos, por isso meu pai nos colocou lá, eu e meu irmão". - Depoimento por E-mail de Cely Brito Canetti - Aluna do Aldridge College em Botafogo.
O Aldridge funcionou neste endereço até que um decreto na Lei nacionalista de Getúlio Vargas, proibindo que as instituições de ensino ficassem na mão de estrangeiros, ou seja, que fossem donos ou dirigentes de qualquer escola no Brasil, Walter Leonard Aldridge ficou perplexo com tal atitude inclusive os filhos do Presidente estudara naquela escola, não aceitou as imposições ditatórias do presidente preferiu fechar o colégio em 1945 a repassar para um brasileiro, no mesmo ano vendeu os prédios para a Fundação Getúlio Vargas, para nada mais nada menos do que Luiz Simões Lopes aluno do colégio aqui em São Gonçalo que apos vários cargos no governo federal, dentre eles o de presidente do DASP, foi o idealizador e criador da Fundação Getúlio Vargas.
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(Luiz Simões Lopes e Arthur Bernardes Filho destaques do Aldridge College) |
Vários alunos do Aldridge College tiveram destaque na vida publica e privada, aqui em São Gonçalo consegui descobrir dois deles o próprio Luiz Simões Lopes e o Arthur Bernardes Filho, Já no Rio de Janeiro foram diversos, vários deles são citados no depoimento da Cely Canetti.
Houve com o decorrer dos anos, novas invasões britânicas que também mudaram hábitos e comportamentos em todo o mundo, novamente não ficamos imunes a tais influências culturais, desde o chá das cinco da tarde, o horário rígido britânico que é uma marca deste povo, a cabine telefônica única, o ônibus de dois andares, e na música a maior de todas: O surgimento dos meninos de Liverpool, Lennon, Paul, Harrison e Ringo que provocaram uma histeria coletiva sem fim em todo o planeta. Os Beatles foram sem dúvida a maior das invasões que contagiou, encantou e fez dançar multidões mundo afora ao som frenético do rock and. roll, e outros vieram na onda The Rolling Stones, Led Zeppelin, Pink Floyd, Sex Pistols, Genesis, Supertramp, Yes, Duran Duran, , Eurythmics, Culture Club, Spandau Balle, Tears for Fears, Pet Shop Boys, The Cure, The Police, Soft Ceal, The Pretenders, Oasis. Coldplay, Space Girls, James Blunt, Robbie Williams e McFLY, Adele, Amy Winehouse entre outros, mas para a história da nossa cidade o melhor das invasões britânicas, sem dúvida esta na existência destas duas escolas no meu ponto de vista, Claro!

Invasões Britânicas na Música: http://pt.wikipedia.org/wiki/Invas%C3%A3o_Brit%C3%A2nica
Zeca Pinheiro
Sobre o Autor
Zeca Pinheiro - Turismólogo, pesquisador amador, responsável pelo Grupo São Gonçalo Memoria Viva - https://www.facebook.com/groups/Saogoncalodasantigas/

Zeca Pinheiro - Turismólogo, pesquisador amador, responsável pelo Grupo São Gonçalo Memoria Viva - https://www.facebook.com/groups/Saogoncalodasantigas/

Parabéns Zeca Pinheiro...Eu sou um grande admirador das suas pesquisas e como sempre você mais uma vez ARREBENTOU meu camarada !!!
ResponderExcluirObrigado Alex, você é um "gentleman"!
ResponderExcluirMatéria sensacional. Será que existe a possibilidade de fazermos um abaixo-assinado e uma petição exigindo da Prefeitura Municipal de São Gonçalo de que a próxima escola inaugurada seja uma homenagem ao Alfred Aldridge como patrono?
ResponderExcluirBeleza Bruno é uma ideia que eu tenho, não acho que um pedido a câmara de vereadores, já estaria de bom tamanho, sem necessidade de um abaixo-assinado. seria o mínimo que poderíamos fazer para homenagear esta grande figura, que foi Diretor do primeiro e fundou o 2º colégio em nossa cidade!!!! Não só Mr. Aldridge temos outras figuras de renomes em nossa história esquecidas e outras lembradas em placas de rua que não nasceram e nem tiveram passagem e participaram ativamente de nossa memória...
ResponderExcluirBoa noite a todos, quero agradeceu ao nobre amigo Zeca Pinheiro por esta breve e tão bem elaborada historia, destes grandes ilustres mestres da área da educação que tanto colaboraram com o engrandecimento do nosso Brasil. Deixo aqui meu obrigado e de minha família, Atenciosamente Anthony Aldridge Cardoso
ResponderExcluirAnthony eu que agradeço as suas palavras. é uma honra pra mim vindo de você neto do grande mestre Mr. Alfred Robinson Aldridge, só descansarei quando ele tiver o reconhecimento das autoridades aqui do Município de São Gonçalo, e será grande prazer vendo você cortar a fita de inauguração de uma escola que leve o nome do seu digníssimo avô, aí sim seu legado vai passar de geração em geração e ele estará como merece definitivamente inserido hall das personalidades nossa história!
ResponderExcluirCely de Brito Aghina Canetti 10/01/2015
ResponderExcluirAcabei de ler sua pesquisa sobre o meu querido Colégio Aldridge e agradeço por constar dela meu depoimento e foto.Como aqui se esquecem das figuras importantes que fizeram tanto pela educação dos jovens de então é muito importante que haja pessoas como você.mostrando para os de agora como foi a nossa educação. Detalhe: Mr. Aldridge tinha, no seu escritório um aparelho que podia ouvir tudo o que se passava nas diversas sala de aula. E quendo o alvoroço era grande uma luz vermelha era acesa numa lâmpada que ficava na parede e sua voz era ouvida: SILENCE, PLEASE ,E o silêncio era imediato. Bons tempos!
Que bom querida Cely Brito Canetti, eu coloquei uma parte do seu depoimento aqui, e o restante do depoimento esta num link, nos créditos, agradeço de coração, sua contribuição foi muito importante para que esta pesquisa tivesse exito, muito obrigado!
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