(Texto de José Eduardo Testahy dos Santos Júnior* e arte final de Tafulhar)
A ideia, em disponibilizar transporte escolar, surgiu devido à grande extensão territorial de São Gonçalo, composto por 92 bairros, e a dificuldade de acesso ao transporte público pelas crianças e jovens. Isto gerava ociosidade na quantidade de matrículas do colégio. Para solucionar o problema, o diretor e um dos donos, Helter Barcellos resolveu adotar o transporte escolar em meados da década de 1970.
"Lembro-me bem de quando criei as rotas do Colégio São Gonçalo. Era na época da segunda crise mundial do petróleo, na década de 1970. O Colégio comprou cinco ônibus a prazo da (empresa) 1001. Eram ônibus usados. Quatro andavam pelas quatro primeiras rotas: Dr. March, Porto Velho, Alcântara e Mutuá. Um ficava de reserva para qualquer enguiço dos demais. Não se pagava nada. Os ônibus eram inteiramente grátis. Chamaram-me de louco. Como, numa época em que os combustíveis subiam loucamente eu tinha a loucura de oferecer de graça algo que estava se tornando cada vez mais caro. Certamente eu iria falir! Não levavam em conta que o Colégio tinha uma grande ociosidade e que o preenchimento dessa ociosidade daria para pagar toda a despesa e o investimento e ainda nos daria um belo lucro. Eu havia calculado tudo. Resultado: em dois anos o Colégio estava pondo aluno pelo ladrão... Aí todos os outros colégios aderiram ao transporte escolar para não perder a concorrência. Eu me divertia muito, pois todos aqueles que riam de mim agora seguiam meus passos. Infelizmente a avareza dos meus colegas de direção do colégio levou-nos a terminar com a gratuidade integral do transporte. Eles sempre estavam pensando em ganhar mais... Posteriormente, quando saí da escola em 2005 resolveram, logo após, acabar com o transporte. E acabaram com o Colégio. Pena ! A burrice e a ganância das pessoas acabam com coisas bonitas como a história do transporte escolar do CSG". (Prof. Helter Barcellos, ex-diretor e um dos donos do Colégio São Gonçalo).
Cinco ônibus usados foram comprados à prazo da Auto Viação 1001. Inicialmente, eles eram inteiramente gratuitos, o que atraiu novos alunos e manteve os que já estavam matriculados. Quatro deles faziam suas rotas pelos diferentes bairros, enquanto um servia de reserva caso algum deles enguiçassem:Centro – BarretoCentro – Porto VelhoCentro - MutuáCentro – Alcântara
Metropolitana 1970 - Como Oficina - em seus últimos anos no Colégio São Gonçalo. Detalhe para a grade do motor substituída por outra fabricada na própria oficina do Colégio, após se chocar com um poste. O pára-choque resistiu bravamente e o para- brisa nã quebrou.
Em poucos anos, a demanda aumentou consideravelmente, havendo a rápida necessidade de adquirir mais ônibus. Para que a manutenção fosse confiável, também se criou uma oficina própria, localizada atrás do clube Tamoio. Isto também reduziria os custos com a manutenção, pois lá se faria absolutamente tudo: mecânica, pintura, borracharia, abastecimento e depósito de diesel, adquirido em grande quantidade, diminuindo o preço do combustível e eliminando o risco de ficar refém dos preços mais caros dos postos de combustíveis convencionais.

Através das unidades Gonçalão (sede), Neves, Centrinho e Gonçalinho, o Colégio São Gonçalo chegou a ter cerca de 25 ônibus, conseguindo abranger praticamente todos os bairros da cidade de São Gonçalo e até alguns de Niterói, como Centro e Icaraí. Entre vários modelos, alguns foram considerados raridades nacionais no cenário da busologia, como o Metropolitana fabricado em 1970 do primeiro lote comprado pela 1001 – chegando a fazer a rota 1 e 3 - e funcionando como Rota Oficina nos últimos anos. Seu potente motor LPO-344 o possibilitava rebocar com grande facilidade as rotas que enguiçavam. Para isso foi feito um engate na sua traseira, ali era encaixado uma peça que o ligava à rota enguiçada, para ser levado à oficina.
Oficina do Colégio São Gonçalo - atrás do clube Tamoio
Engate do Metropolitano 1970, para rebocar os demais ônibus
Entre outros modelos notáveis estavam o Ciferal Urbano 1976, Ciferal Tocantins 1978, Caio Gabriela 1979 e Ciferal Alvorada (curto) 1986. Outro mais comum era o Ciferal Alvorada (rota 1).
Ciferal Urbano - 1976 - próximo à oficina
Ciferal Tocantins 1978
Caio Gabriela 1979 - na foto, ele já havia sido vendido - fazia a rota 6
Ciferal Alvorada (curto) 1986 - fazia a rota 11 - na foto, ele já havia sido vendido a uma Igreja de São Gonçalo
Os últimos modelos adquiridos foram cinco unidades do modelo Marcopolo Torino (1993). Com a crise do Colégio São Gonçalo a partir de 2008, alguns foram vendidos aleatoriamente para pagar motoristas, monitoras e mecânicos. Em janeiro de 2010, todos eles foram vendidos. Com isso, a quantidade de alunos reduziu drasticamente. No final do mesmo ano, cerca de 500 alunos estavam matriculados (número muito inferior aos cinco mil dos anos anteriores). Sem saída e com muitas dívidas, o Colégio São Gonçalo fechou suas portas.
Marcopolo Torino 1993 - repousando na garagem do Colégio - este fazia a rota 5
Vários ônibus foram comprados pelo Ricardo Pericar, atualmente, vereador de SG. Alguns foram revendidos para igrejas de Nova Iguaçu e Queimados. Um foi transformado em ônibus trio elétrico e outro em trem. Algumas raridades ainda permanecem com Pericar, como o Metropolitana 1970 e Caio Gabriela 1979. Todos estes ônibus são símbolos da história educacional de São Gonçalo e do transporte brasileiro. O modelo da carroceria Metropolitana, por exemplo, é último modelo que se tem notícia da série 1970. Devido à sua extrema raridade, sua preservação e restauração é esperada com grande anseio pelos amantes de ônibus antigos.
Ônibus transformado em trenzinho
Ciferal Tocantins 1978 - vendido para Queimados
Ciferal Tocantins 1978 - transformado em Trio Elétrico
Ciferal Tocantins 1978 - vendido para uma Igreja de Nova Iguaçu - fez as rotas 10 e 13
Metropolitana 1970 - resistindo, bravamente, nos dias atuais. Sua preservação e restauração é esperada com grande anseio pelos amantes de ônibus antigos.
Sobre o autor:

Fico muito feliz de ter escrito este texto. Pode contar comigo sempre, amigo Agilberto. Coloquei o banner do seu blog no meu como blog parceiro. Coloca o meu no seu também?
ResponderExcluirParceiros
Testahy
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Querido Testahy, feliz estou eu em ter vc. como colaborador, claro que vou compartilhar o seu blog, que, aliás, é sensacional, mas tenha paciência, pois estou com problemas técnicos de web desig, rsrsrsrsr.
ExcluirExcelente texto, como também raras fotos, abrilhantando a maravilhosa contribuição para a história do transporte do município de São Gonçalo...
ResponderExcluirEstudei no Colégio S.Gonçalo entre 1966 e 1972, e fiquei muito triste com o fechamento desse estabelecimento que sempre foi uma referência em nossa cidade. Fiquei sabendo de coisas, que para mim eram até ler esse blog eram desconhecidas, como a oficina dos ônibus.
ResponderExcluirEstudei toda a minha vida até 1993 e fiquei muito triste em saber do fechamento do Colégio São Gonçalo.... muito triste mesmo
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