quarta-feira, 27 de julho de 2016

Bar nosso de cada dia


BAR NOSSO DE CADA DIA

(Texto de Zeca Pinheiro)

 
Adega, bar, barraca, barzinho, birosca, boate, bodega, boteco, botequim, cachaçaria, cantina, chopperia, casa noturna, casas de show, clubes, galeto, lanchonete, mercearia, pub, pizzaria, quiosque, restaurante, taberna, taverna, trattoria, trailer e, o famoso “pé sujo” o mais frequentado devido a sua simplicidade, frequência maior da comunidade do seu entorno, como também o preçinho camarada e o melhor de tudo a incrível diversidade de petiscos. Confesso que é meu local preferido para beber minhas cervejas. Não importa a denominação cada tem sua especialidade o importante é sentir-se bem seja onde estiver.

As denominações mais comuns e democráticas aqui no Brasil “Botequim” e “Bar”, estes termos vêm de origens diferentes, senão vejamos:

A origem remota da palavra botequim está no termo grego apothéké (depósito); de difusão do saber, como as bibliotecas; um lugar onde se preparam medicamentos para o corpo e a alma, como as Boticas em Portugal e Bodega na Espanha. Também muito utilizado o termo Botecoé uma derivação regressiva de “botequim”.

O termo Bar vem da palavra francesa "barre", que significa barra em português. Isto por que em meados do século 18, na França, as tabernas possuíam uma barra que tomava todo o comprimento do Balcão, ela servia para evitar que os clientes se se encostassem ao mesmo. Nessa época, costumavam chegar jovens americanos á França, para estudar, e muitos deles eram assíduos frequentadores de tabernas. A história conta que, após regressarem ao seu país, dois desses estudantes fundaram um estabelecimento de venda de venda de bebidas que tinha uma inovação para os americanos, que era justamente a ao longo do balcão, assim como na França, onde os estudantes haviam observado as tabernas, e que era uma coisa com a qual os americanos não estavam acostumados.

Assim, breve o estabelecimento se diferenciou dos demais, e pouco a pouco, a palavra barre foi divulgada e espalhada, até chegar ao termo "BAR".


Cartola, Ismael Dias e Mano Décio da Viola, num boteco qualquer!
 
 

A maioria das crônicas do meu livro Confissões de Bêbados se passa em um boteco, ou iniciou-se em algum, no lançamento deste livro eu fiz uma homenagem a 48 deles que bebi por um bom período da minha vida, claro que esqueci alguns. Mais certamente os melhores botecos que frequentei foram aqueles cujos donos me fiavam, entre eles Ajalmo, Gomes, Barão, também os bares onde transbordei de felicidade conquistando corações solitários e também me apaixonando perdidamente como no Chicken House na Rua Miguel Couto e no Bar Todo Dia, no terminal Menezes Cortes, ambos no centro do Rio.


Além do livro tenho projetos culturais concebidos e serão executados dentro de botequins, como o “PORRE DE CULTURA” e a OLIMPÍADA DE BOTEQUIM por exemplo.

Aliás, a cultura anda entrelaçada com bares, onde a inspiração aflora após umas e outras. Talentos acontecem da noite para o dia, várias músicas do repertório nacional foram compostas nos botecos, assim como poesias, peças teatrais, pinturas, filmes, entre outras criações artísticas, que engrandecem nossa cultura popular, o maior compositor de botequim é sem dúvida o grande menestrel da Vila, Noel Rosa.


As ações seguem noite adentro entre saraus e rodas culturais, com música ao vivo, poesia, esquetes teatrais e circenses. Aqui na cidade temos exemplos como Uma Noite na Taverna, Sarau da Sal e o Diário de Poesia.


Pixinguinha e sua trupe no Bar e Wiskeria Gouveia – Centro do Rio – Seu Ponto habitual

 
Bar é um local no meu entender que deveria ter uma placa “Utilidade Pública”, tal sua necessidade para algumas pessoas, quem nunca precisou encher a cara, esquecer algum problema, num local antagônico, você quer ficar sozinho ou você quer conhecer alguém, desde fazer novas amizades ou mesmo paquerar, às vezes basta apenas conversar, não há necessidade em gastar grana com analista, fica bem mais na conta desabafar com seu garçom predileto ou mesmo o dono daquele seu Pé Sujo preferido, bebendo umas e outras.

 

É um excelente lugar para você se reagrupar emocionalmente, sem julgamentos, é o local mais democrático que existe. Todos se aceitam, se gostam sem cobranças e preconceitos, claro que vez em quando aparece algum "mala sem alça", aquele sujeito chato, que pede um copo da sua cerveja, uma dose de cachaça e até um cigarro, mais até esse frequentador faz parte, da cultura de botequim.
Os botequins, além de espaços eminentemente gregários, de convívio democrático e partilhado entre camadas sociais distintas, são ícones inalienáveis da cultura popular das cidades, patrimônio imaterial dos municípios, representantes do imaginário afetivo e da memória intangível das locais que ocupam. Boteco é o lugar onde várias emoções contraditórias convivem.


Bar no falies Bergere – Renoir

 

Um grupo de artistas impressionistas se reunia nos cafés e bares de Paris para discutir ideias e técnicas. Entre uns goles e outros, surgiram obras primas em todas as manifestações artísticas.

 



 



 
Bar e Restaurante Villarino


Um dos locais preferidos de Vinícius e que gerou um dos encontros mais importantes de sua trajetória. Foi no Villarino que o poeta conheceu Tom Jobim e firmou sua primeira parceria, a trilha sonora de "Orfeu da Conceição". Foi composta ali, entre uns drinques e outros acompanhados de deliciosos petiscos.

 
Seja onde você estiver, num bar, boteco ou botequim até o final da noite você vai sorrir adoidado, talvez nem saiba do que esteja rindo, podem ser piadas imaginárias ou reais, ouvirá algumas mentiras, vai discutir sobre futebol ou política, trocará certamente olhares furtivos, irá seduzir e ser seduzido, dependendo do lugar vai dançar, se der sorte trocará beijos ardentes, pode até se apaixonar, o mais importante será a boêmia.
Melhor ainda se você estiver naquele boteco preferido, que você tem até cartão ponto, e quando chega é recebido como um verdadeiro rei, com uma estupidamente gelada e quem gosta uma dose de cachaça pra abrir o expediente, é pura alegria, abraços e afagos dos amigos, carinho que às vezes você não encontra em outro lugar, todos se conhecem, se gostam, sentem falta, é uma verdadeira família, um pouco torta na verdade mais é uma família, todos o tratam com reverência e respeito, embora às vezes te zoem quando seu time perde às vezes se discute por bobeira, mais logo esta tudo bem, como numa genuína família brasileira, sabe, os que esses amigos são para sempre, estarão sempre em nosso coração. Deus Ilumine sempre esses amigos, homens e mulheres de boa vontade e salve, salve o Bar nosso de Cada Dia...
 
 
 
 
- Este artigo foi escrito em homenagem aos meus amigos de copo e dos donos de bares de cada dia, que partiram para outro plano espiritual, deixando saudades imensas, que a luz divina os acompanhe sempre!
Fontes:
Bares pé sujo
Papo de Bar
 


Autor: Zeca Pinheiro é escritor, poeta, cachaceiro e filósofo de botequim, autor do livro “Confissões de Bêbados”, administra o grupo São Gonçalo Memória Viva: https://www.facebook.com/groups/Saogoncalodasantigas/ e a página Redescobrindo São Gonçalo: https://www.facebook.com/Redescobrindo-S%C3%A3o-Gon%C3%A7alo-136682933104250/
 
 
 
 

 

 

 

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