quinta-feira, 10 de março de 2016

Dois governantes

Dois governantes

História gonçalense

 

Dois governantes

                                                                  Jorge Cesar Pereira Nunes

 

            Dois gonçalenses destacaram-se na política estadual, chegando à administração central da província, no Império, e do Estado, na República. Foram eles Antônio Nicolau Tolentino (10-09-1810/03-07-1888) e Geremias de Mattos Fontes (28-06-1930/02-03-2010).

(Antônio Nicolau Tolentino)
 

            Nicolau Tolentino aqui nasceu em 10 de setembro de 1810, filho de Francisco José Tolentino e Ana Maria do Amor Divino. Tornando-se órfão, foi levado para ser criado na corte por uma tia solteira, Maria Benedita da Silva (1788/1864), a quem chamava de sua segunda mãe. Com 16 anos de idade, esforçado como era, não só cursara as aulas regulares como já sabia falar inglês e francês, o que o animou a requerer ao imperador seu ingresso no serviço público da corte, como praticante não remunerado, isto é, estágio probatório para a carreira regular, e reza a lenda familiar que ele, enquanto varria a repartição, dizia aos seus companheiros, apontando para a cadeira do diretor: “Ali é o meu lugar; é para ali que eu vou”. Ao longo dos anos, o vaticínio tornou-se realidade. Ele ascendeu não só na burocracia, como em cargos políticos, entre os quais o de presidente da Província do Rio de Janeiro e representante do Brasil no Uruguai para o acerto das dívidas daquele país com o nosso.

            Aos 27 anos, amancebou-se com uma chapeleira italiana (cujo nome nunca revelou) e dela teve as filhas Adelaide (1837) e Josefina (1839). Casou-se, em 1845, com Maria Siqueira de Araújo Carvalho, filha do fazendeiro José Botelho de Araújo Carvalho, e dela teve vários filhos, dos quais o primeiro, de mesmo nome, foi voluntário na Guerra do Paraguai, e o último, José, se destacou como médico, tendo sido o implantador do empreendimento de águas minerais em Poços de Caldas, MG.

            Nicolau Tolentino foi agraciado com a Ordem de Cristo (1843), no grau de cavaleiro (promovido a oficial em 1888), e com a Ordem da Rosa (1845), no grau de dignitário; recebeu o título do Conselho do Imperador (1855); foi presidente da Província do Rio de Janeiro (interinamente, de 2 de maio a 7 de outubro de 1856; e efetivamente, de 4 de agosto de 1857 a 20 de outubro de 1858, com uma breve interrupção por motivo de saúde), tendo sido o 32º chefe do executivo fluminense; integrou a Sociedade Auxiliadora da Indústria Nacional (1838); presidente do conselho fiscal do Banco do Brasil (1857); um dos primeiros acionistas de Estrada de Ferro de Dom Pedro II (1855), um dos subscritores de lista para a construção da estátua eqüestre de dom Pedro I na Praça da Constituição (1861), inspetor da Alfândega do Rio de Janeiro (1861) e acionista da Companhia Docas do Rio de Janeiro (1869); co-fundador da Sociedade de Recreação Campestre (1855), da Sociedade Protetora das Viúvas Desvalidas (1861) e da Associação Promotora da Instrução de Crianças Desvalidas (1874); comissário imperial dos exames finais dos alunos do Colégio Pedro II (1873); diretor da Biblioteca Municipal da Corte (1874); diretor do Banco Industrial Mercantil (1874); diretor do tesouro imperial; criticou severamente o sistema prisional do império (1874), pois “é impossível reformar uma pessoa em tal ambiente”; nomeado pelo bispo diocesano subdiácono na Arquidiocese do Rio de Janeiro (1876); diretor da Academia de Belas Artes (de 1874 a 1888) e do Conservatório de Música (hoje, Escola de Música da Universidade Federal do Rio de Janeiro); sócio honorário da Sociedade Propagadora de Belas Artes (1881); acionista (1834) e depois presidente da Caixa Econômica e do Monte de Socorro; co-fundador da Sociedade Bibliográfica Brasileira (1886); instituidor do Montepio Geral, deixou sua presidência em 1874; e compôs a comissão para combater a carestia e promover o fornecimento de gêneros alimentícios à corte (1876); além de haver exercido vários outros cargos.

            Nicolau Tolentino faleceu a 3 de julho de 1888, deixando testamento em que dispensava todas as honras fúnebres a que tinha direito e em que proibia que a missa de sétimo dia por sua alma tivesse anúncios nos jornais da época, por considerá-los uma vaidade tola.

 

            Outro gonçalense que se destacou na administração estadual, já na República, foi Geremias de Mattos Fontes, sétimo governador (considerado este título na República) e141º chefe do executivo fluminense (contado a partir do período imperial). Filho de Antônio da Silva Fontes e Valéria de Mattos Fontes, nasceu na localidade de Barracão em 28 de junho de 1930. Casado com Nilda Filgueiras Fontes, dela teve os filhos Geremias Júnior, Paulo Sérgio, Marcos Antônio, Elisa, Ellen, Cássia e Cláudio, além de um filho adotivo, Lísias.

(Geremias de Mattos Fontes, imagem blog "toda palavra")
 

            Geremias começou suas atividades profissionais como operário fabril e gráfico de jornal, passando a Escrevente de Justiça em 1949, ofício em que permaneceu até 1954, ano em que se bacharelou em Direito pela Universidade Federal Fluminense, depois de haver feito os estudos de primário, ginásio e médio na cidade. Ainda no banco escolar, participou da fundação da Associação Gonçalense de Estudantes (AGE), em 1948, tendo sido seu secretário e presidente. Em 1956 presidiu a Campanha Pró-Educandários Gratuitos de São Gonçalo.

            Ingressou na política pelas mãos do prefeito Joaquim de Almeida Lavoura, que o nomeou secretário da prefeitura, cargo por ele ocupado de primeiro de fevereiro de 1955 a 30 de agosto de 1958, quando se afastou para, já inscrito no Partido Democrata Cristão (PDC), concorrer a prefeito na eleição de 3 de outubro daquele ano. Eleito, exerceu o mandato de 1º de fevereiro de 1959 a 31 de janeiro de 1963. No pleito de 3 de outubro de 1962, foi eleito deputado federal e exerceu o mandato de 1º de fevereiro de 1963 a 31 de janeiro de 1967. Na Câmara dos Deputados, foi líder do PDC de 1963 a 1965 e, com a extinção dos partidos à época, ingressou na Aliança Renovadora Nacional (Arena), por ele presidida regionalmente em 1966 e 1967.

            Em 3 de setembro de 1966, Geremias foi eleito indiretamente pela Assembleia Legislativa para o mandato de governador, que exerceu de 15 de março de 1967 a 14 de março de 1971, ano em que foi ordenado pastor da Igreja Presbiteriana. Desiludido com a política, dedicou-se à Advocacia, à Igreja Batista do Calvário, de que era pastor, e à reabilitação de dependentes químicos, por meio da entidade denominada S8, por ele criada.

            Patrono de escola municipal em Sambaetiba, Itaboraí; de avenida em Nova Friburgo; e de unidade de atendimento médico em São Gonçalo, Geremias de Mattos Fontes faleceu em 2 de março de 2010 e foi sepultado no cemitério Parque da Paz, em São Gonçalo.  

       
Jorge Cesar Pereira Nunes é Bacharel em Direito, Jornalista e Pesquisador da História de São Gonçalo.
É, também, autor das seguintes obras:
A criação de municípios no Estado do Rio de Janeiro;
Chefes de Executivo e Vice-Prefeitos de São Gonçalo;
Dirigentes Gonçalenses - Perfis;
Crônicas Históricas Gonçalenses I e II.



  
 

            Fontes: Os Chefes do Executivo Fluminense, de Lourenço Luiz Lacombe, p. 26, 27 e 104, Coleção Alcindo Sodré, Museu Imperial de Petrópolis, 1973.

               Um Funcionário da Monarquia, de Antonio Candido de Mello e Souza, p. 19, Editora Ouro Sobre Azul, 2002.

               Novo e Completo Índice Cronológico da História do Brasil, de 1842 a 1889, p. 930.

               Dirigentes Gonçalenses, Perfis, 1890 a 2011, p. 64, de Jorge Cesar Pereira Nunes, Editora Nitpress, 2011.

               Correio Oficial do Império, 31-07-1834, p. 4.

               Ata da sessão nº 204, de 10-11-1838, da Sociedade Auxiliadora da Indústria Nacional.

               Anais da Biblioteca Nacional, 1861, p. 161.

               Anais da Assembleia Legislativa Provincial, sessões de 03 e 04-08-1857.

               Relatórios do presidente da província de 02-05, 01-08 e 07-10-1856; 29-07 e 01-08-1858.

               Diário do Rio de Janeiro, 02-04-1844, p. 1;

               Correio da Tarde, 02-05-1856, p. 2.

               A Actualidade, 16-10-1861, p. 3.

               A Nação, 05-03, 31-07 e 24-12-1874, todos p. 2.

               O Globo, 12-02, p. 3, e 28-11-1875, p. 1; 14-02, p. 3, e 22-02-1876, p. 1.

               Gazeta de Notícias, 18-08-1878, p. 1; 05-02-1881, p. 1; 10-10-1882, p. 1; 18-02-1886, p. 1; 04-05, p. 2 e 04-07-1888, p. 1.

               Correio Mercantil, edições de 1855 e 1861.

               Diário do Rio de Janeiro, edições de 1844 a 1877.

               Jornal do Commercio, 04-07, p. 1, e 05-07-1888, p. 6.

               Banco de Deputados da Câmara Federal.

               O São Gonçalo, A Tribuna e O Fluminense, de 03 e 04-03-2010.

 

Imagens: Conselheiro Antônio Nicolau Tolentino.

                 Geremias de Mattos Fontes, em foto sem autor, de 1950, Coleção MEMOR, do Grupo de História da Faculdade de Formação de Professores da UERJ, em São Gonçalo.

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