sexta-feira, 20 de novembro de 2015

A Umbanda nasceu aqui

(Texto de Jorge Cesar Pereira Nunes)



(Imagem copiada de territóriogonçalense.com)
















(Zélio Fernandino de Moraes, foto "A Gazeta")



                        Com efeito, no dia 16 de novembro de 1908, à noite, em sua residência, na Rua Floriano Peixoto, 30, em Neves, São Gonçalo, sem razão aparente, reunia-se verdadeira multidão para assistir àquele fato. E ali, naquele momento, foi fundada a Tenda de Umbanda Nossa Senhora da Piedade.

                        Zélio nunca explicou a razão da palavra “umbanda”, até mesmo porque ninguém lhe perguntou, embora ele tenha vivido até 1975. Por isso, os historiadores divergem sobre sua procedência, mas a imensa maioria acredita que ela decorra do vocábulo “m’banda”, usada pelas tribos Quimbundo, da África, para designar os seus sacerdotes, e que era também uma palavra sagrada dos índios tupis. Portanto, seria “Tenda de Sacerdotes”, numa tradução livre.

                        Sua criação foi seguida, no mesmo ato, de algumas regras básicas e simples, tais como o uso apenas de roupas brancas, ter como adereço somente uma fita da cor do orixá ou do santo do dia comemorado, não receber nenhuma recompensa dos que recorrem à Umbanda, não praticar sacrifício de animais e fazer da caridade a prática permanente segundo o Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo.

                        Em 1918, Zélio criou sete novas tendas (Nossa Senhora da Guia, Nossa Senhora da Conceição, Santa Bárbara, São Pedro, Oxalá, São Jorge e São Jerônimo), das quais a maioria na cidade do Rio de Janeiro, sendo a última delas em Neves, onde criou uma escola primária para as crianças pobres do bairro, e começou a expandir sua crença por todo o território nacional.

                        Casado com dona Isabel de Moraes, com ela teve duas filhas, Zélia e Zilméia, às quais passou a direção da tenda original em 1963 e mudou residência, com a esposa, para Boca do Mato, em Cachoeiras de Macacu, RJ, onde faleceu em três de outubro de1975.

                        Zélio, entretanto, não se dedicava apenas à sua crença. Como era norma não receber recompensa pelo bem distribuído, dedicava-se às atividades profissionais normais, assumindo os negócios de seu pai, e fez uma incursão na política, elegendo-se vereador em 18 de maio de 1924 e empossado em 10 de junho seguinte. Foi reeleito para um segundo mandato em 10 de abril de 1927, empossado no dia 30 seguinte e escolhido por seus pares, na mesma data, para secretário do Legislativo gonçalense. Após cumprir o novo mandato de três anos, candidatou-se pela terceira vez em 1929 e não se reelegeu, o que o levou a afastar-se da política. Quando de seu falecimento, a Câmara Municipal deu seu nome à Rua [vereador] Zélio de Moraes (erradamente grafado como Zílio, em placa da prefeitura), no bairro de Mangueira.


(Imagem da destruição de um patrimônio histórico, copiado de extra.globo.com)

                        Infelizmente, o importante sítio histórico não só para a cidade, como para o estado do Rio e a nação brasileira, não conseguiu resistir à força de marretas e picaretas: o imóvel da Rua Floriano Peixoto, 30, foi vendido por herdeiros de Zélio de Moraes em fins de 2010 ao empresário Wanderley da Silva. Em setembro e outubro do ano seguinte, ele determinou que o prédio histórico fosse derrubado para em seu lugar erguer uma loja de alumínios. Os protestos, inclusive do cantor e compositor popular Martinho da Vila, católico assumido, mas defensor da História, foram inúteis. Até porque tudo ocorreu com o beneplácito da prefeitura municipal.
Fontes: O Fluminense, 10-04-1908, p. 2; 10-06-1924, p. 1; 10-04-1927, p. 1; 01-05-1927, p. 1; e 07-03-1929, p. 1, Biblioteca Nacional.
O Globo Rio de Janeiro, RJ, 05.10.2011, p. 20
    
Jorge Cesar Pereira Nunes é Bacharel em Direito, Jornalista e Pesquisador da História de São Gonçalo.
É também  autor das seguintes obras:
A criação de municípios no Estado do Rio de Janeiro;
Chefes de Executivo e Vice-Prefeitos de São Gonçalo;
Dirigentes Gonçalenses - Perfis;
Crônicas Históricas Gonçalenses I, II, III e IV.



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